Neste conteúdo, vamos tocar em um tema sensível e muito corriqueiro em minhas consultas como terapeuta: afinal de contas, como lidar com pais idosos?
Como filhos adultos, nem sempre estamos ou nos sentimos preparados para lidar com todas as demandas – e, por outro lado, os pais idosos também precisam se adaptar aos filhos, que já não são crianças. É um aprendizado dos dois lados.
Então, como equilibrar a vida adulta, com suas demandas e responsabilidades, ao cuidado com os idosos da família? Qual é o ponto de equilíbrio nessa relação?
É muito importante conversarmos sobre este assunto. Quero falar sobre várias situações que podem acontecer e o que podemos fazer quanto a elas – aliás, estou escrevendo este conteúdo no quarto de hospital, enquanto minha mãe idosa está internada. Faz parte da vida.
Vamos lá?
Primeiro fato a ser compreendido: nossos pais são nossas raízes
Todas as pessoas que vieram antes de nós contribuíram de alguma forma ao sucesso da família. Especialmente os idosos, que passaram por épocas e períodos desafiadores para a vida ser levada adiante. Nossa vida só foi possível por tudo o que eles fizeram por nós.
Portanto, devemos o máximo respeito para essas figuras duplamente maternas e paternas. Somente eles vivenciaram e fizeram os esforços necessários para manter a família no início. Mesmo que tenhamos mágoas e questionamentos de suas escolhas e padrões de vida, eles são nossas raízes.
Infelizmente, muitas pessoas temem serem esquecidas quando chegam à terceira idade. Elas ficam com medo de não serem valorizadas, de perderem suas importâncias para filhos e netos.
A associação da condição mais fragilizada com o abandono assusta a muitos idosos, principalmente por histórias observadas e vivenciadas, causando temores ansiosos do futuro e do fim da vida.
Assim sendo, ao incluir os idosos no círculo da família, você transmite a eles a sensação de segurança – eles sentem que continuam importantes e fazendo parte da família.
Ainda que viva a vida sob um novo panorama, os idosos saberão que podem contar com seus parentes, quando os olhos ficarem fracos, a mente lenta e o corpo frágil pelos anos de vida e ferimentos das guerras travadas, até mesmo por nossas vidas e sucesso.
O cuidado com o bem-estar dos pais idosos é um dever – e não opção dos filhos e família.
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Mas como não sair do lugar de filhos, tendo pais idosos?
Bom, até agora vimos que para saber como lidar com pais idosos, o primeiro passo é entender que eles são nossas raízes e é o nosso dever ampará-los na velhice.
Porém, eis um erro muito comum e que deve ser evitado: muitos filhos transformam-se em pais de seus pais idosos. Em outras palavras, os filhos deixam de ser filhos e assumem o lugar de pais de seus próprios pais.
Isso não pode acontecer.
As famílias precisam se reorganizar para este ciclo de envelhecimento e despedida e se empenhar no cultivo de atitudes que produzam a valorização da pessoa da terceira idade na família – sem que, para isso, tenham atitudes de desrespeito, frieza, autoritarismo ou infantilização dos idosos.
Mas, o que fazer na prática para que haja o cuidado com os pais idosos, sem que a hierarquia familiar se perca?
Como os filhos precisam ter responsabilidade e não devem deixar os pais em situação de abandono, uma solução é contratar profissionais para executar as tarefas de cuidados. É uma forma de conseguir equilibrar as demandas e responsabilidades com trabalho, filhos, família e pais idosos.
Eu, por exemplo, tenho meu consultório terapêutico e posso fazer minha parte colocando auxiliares aos cuidados de minha mãe quando ela não conseguir ter autonomia. Mas isso não significa eu querer me tornar mãe dela e impor tudo.
Mas isso não é algo apenas de terapia familiar – é lei.
Tanto a Constituição Federal quanto o Estatuto do Idoso e o Código Civil estabelecem esta obrigação. Vejamos o artigo 229 da Constituição Federal:
“Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.
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O idoso abandonado no Pronto Socorro foi um mau pai?
Estou escrevendo este artigo dentro de um hospital em Florianópolis (SC). Minha mãe está em um hospital em apartamento individual. Eu estou sentada em um sofá-cama com vista para o mar, trabalhando e recebendo a comida no quarto. E tenho muito a agradecer por ter trabalhado e ter um plano de saúde que está dando esta condição de tratamento.
Mas posso dizer que dois dias atrás vi uma realidade totalmente diferente. Precisava transportar minha mãe idosa de ambulância e apoio médico, mas a ala que minha mãe estava fechava às 22 horas e teríamos que esperar a ambulância no Pronto Socorro do SUS.
Vi um fato lamentável: um homem idoso e muito magro caiu da maca, levantou-se meio tonto e deitou na cama novamente. Eu fiquei desesperada, pois ouvi a cabeça dele batendo forte no chão. Fui chamar a equipe para checar se ele estava machucado. Daí me responderam que ele é um idoso abandonado. Ele vai sozinho e a equipe fica muitas vezes com ele no Pronto Socorro.
Daí entendi que a magreza era um homem idoso abandonado. Aí poderíamos imaginar: mas se ele foi um mau pai?
Esta pergunta é complexa – e neste caso, precisa ser analisada caso a caso. Mas um fato serve para todos os casos: precisamos ver a responsabilidade de um filho.
Primeiramente, é bom que se diga quem é o idoso de hoje em dia. Pelo Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741/03), idoso é toda pessoa com idade igual ou superior a 60 anos, cabendo à família, à comunidade, à sociedade e ao Poder Público a obrigação de ampará-lo.
Como dividir os cuidados do idoso com a família de forma leve e sem brigas na família?
Todos nós carregamos particularidades, sejam físicas ou mentais. Contudo, no que diz respeito aos idosos, o cuidado deve ser ainda maior, visto que, nesta fase, precisam de assistência.
Quem precisa cuidar de um idoso, por exemplo, deve ter em mente as limitações que este possui. Já ouvi e vi muitas histórias do idoso doente e a família falando que era fingimento.
Podemos assimilar que também há uma quebra de outro princípio da Constelação Familiar: o Equilíbrio.
Os avós, durante toda a sua vida nesta função, deram o que podiam aos filhos e netos. Em uma fase de transição, onde muitos não podem cuidar de si sozinhos, precisam de um acompanhamento contínuo. Assim sendo, cuidar deles seria uma forma de retribuição, porém sem deixar o lugar deles como grandes. Sem impor e falar como eles fossem incapazes de manter sua dignidade e liberdade.
A ideia aqui não é abdicar de si, pois todo adulto possui uma lista de obrigações, bem como uma vida pessoal distinta da família. Ele não deve viver em função dos pais, fazendo tudo o que eles querem e quando querem – já que isto também é prejudicial. Contudo, o filho deve manter o fluxo familiar em ordem, ajudando os pais nessa fase de necessidade. Dessa forma, demonstra o que sente por eles por meio de ações.
Mas atenção: cuidar do idoso não deve ser uma tarefa desagradável, de um só da família e de exclusividade feminina.
Esse cuidado ainda não cabe apenas aos idosos que são dependentes. Devido às limitações naturais da idade, até os super independentes devem ser acompanhados de perto.
Afirmo isso por experiência própria: minha mãe tem 80 anos e comecei a perceber que nós, os filhos, precisávamos ter maior controle e observações de seu estado emocional e físico. Os idosos também precisam participar da vida familiar e social – pois isso evita que eles escolham passar parte dos dias dormindo.
O idoso, mesmo que consiga fazer tudo sozinho, precisa manter um contato social. Nesse sentido, a família, por gentileza, vínculo, responsabilidade, eventualmente deve oferecer para ele alguma ajuda, seja para algum transporte, alguma tarefa, alguma situação mais complexa.
Às vezes, é difícil ver seus pais perdendo a mobilidade e agilidade para coisas simples, tudo vai se tornando mais lento e difícil, mas isso é algo que faz parte da vida.
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Seus pais estão perdendo a autonomia e são teimosos: o que fazer?
Nesse caso, é preciso ter muita conversa, educação e paciência. Primeiro, explicar a situação do idoso (expor o que tem acontecido com ele, seus problemas de saúde, suas limitações, exames) e, na sequência, pedir ajuda para buscar soluções conjuntas.
Nesse momento, é preciso agir sem imposição, pressão ou julgamentos. Busque entender o que é possível cada membro realizar e aproveite para dizer aos jovens e crianças a importância de sua participação nesse momento.
Se tem dificuldade com alguns familiares, leve para a abordagem de uma equipe multidisciplinar. Psicólogo, assistente social, terapeuta familiar, médico e enfermeira conseguem juntos minimizar os conflitos e fortalecer os argumentos e cuidados necessários.
Se o idoso não tem autonomia, os familiares precisam conversar e distribuir os cuidados entre si. Não quer dizer, porém, que todos precisam desempenhar exatamente as mesmas tarefas.
Se o idoso durante a semana é cuidado por um profissional e no final de semana depende dos filhos, eles podem estabelecer um rodízio para desempenhar essa assistência.
Envolva os jovens nessa dinâmica. Um neto pode ficar encarregado de fazer as compras do mês, outro, levar os avós nas consultas, fazer reparos na casa deles. Ou então ensiná-los a usar aparelhos.
Nunca na vida é tarde demais para aprender algo, bem como também nunca é tarde para ensinar. Com os netos e bisnetos, os idosos têm uma nova porta para repassar tudo o que sabem. Desde modo, aliando as novas necessidades com conhecimentos antigos, podem ajudar a formar indivíduos mais preparados e sadios mentalmente.
Portanto, podemos encontrar estratégias para aceitar ajuda, mas não saia do seu lugar como filho ou como neto.
É o mesmo princípio usado com crianças. Enquanto um adulto se dedica em cuidar, outro se responsabiliza pelos afazeres domésticos. Com o idoso oriento a manter essa divisão e, quando possível, a inclusão de um familiar responsável ainda pelos cuidados médicos e financeiros.
A sensação de inutilidade é muito comum para os idosos e, por isso, temos que tentar mostrar a eles o quanto são importantes e podem fazer a diferença em nossas vidas.
E quando o filho não pode ajudar os pais idosos?
A Constelação Familiar é bem específica quanto a isso. Como dito através desta análise do pensamento sistêmico, o idoso deve estar à frente do seio familiar, ajudando a equilibrar posições e, consequentemente, a estrutura. Como qualquer ser humano, também possui direitos específicos dentro da família. Assim, trata-se de algo inegável e irrevogável.
Mas existem casos em que os filhos e netos não conseguem ajudar os pais idosos.
Quem mora longe, por exemplo, ou não tem tempo para se dedicar ao idoso no cotidiano, pode ajudar de outras formas. Não tem desculpa. Mas não adianta a família obrigar e forçar, pois só piora a situação. Além da possibilidade de contribuir financeiramente com as despesas, pode fazer compras online e oferecer ajuda para esclarecer dúvidas e pesquisar informações e produtos na internet.
Então o nosso papel é acompanhar os trabalhos das pessoas que podem ajudar os idosos mais de perto e estar atento à saúde, percebendo se o idoso está feliz com o cuidador.
Nesse contexto, a Constelação Familiar mostra que cada indivíduo tem um papel importante a cumprir. Aos idosos, cabe preservar a sua imagem e ensinamentos para que as futuras gerações disseminem essa educação. Essa cadeia permite que a família que vive agora e a que chegará no futuro desfrute de bons relacionamentos com seus indivíduos.
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