O tema divórcio é, por vezes, espinhoso e carregado de dores. Afinal, é um relacionamento amoroso que se rompeu e, junto, sonhos e projetos de vida.
A primeira etapa dessa montanha-russa de sentimentos é identificar se, de fato, a conexão acabou. Afinal, pode ser que o casal esteja vivenciando uma crise facilmente contornável ou que devido a rotina, ocorreu uma desconexão.
Independentemente do motivo, o fato é que uma separação sempre tende a trazer consigo momentos difíceis. Superar o processo de ruptura geralmente é complicado e faz com que algumas pessoas sofram bastante.
É preciso aceitar que a tristeza faz parte do processo de separação, sendo um caminho para a recuperação do casal, filhos, familiares e amigos. Uma separação é uma mudança de um sistema com vários elementos.
Por isso, vamos conversar sobre isso? Entenda como as terapias sistêmicas enxergam essa situação e o que pode estar por trás de um pedido de divórcio.
As dificuldades de uma separação
Vamos refletir sobre as consequência de uma separação e que resulta em um divórcio.
Infelizmente, mas de forma natural, os relacionamentos chegam ao fim por escolhas erradas ou por padrões comportamentais incompatíveis para o amor fluir e fazer crescer.
Além disso, a negligência quanto à manutenção diária da validação do outro acaba por afetar a relação, induzindo o casal a um divórcio até mesmo como busca de lucidez.
Podemos ver o divórcio como uma espécie de amputação de um pedaço da família, pois com a mudança de um elemento, muda totalmente o sistema.
Todo o amor e laços construídos durante o casamento são retirados e substituídos por algo novo. Ainda que seja uma separação amigável, muita coisa se perde, pois ficamos com o gosto amargo do fracasso e dos sonhos não realizados.
Os cônjuges não precisam se ver como inimigos após o divórcio, mas devido à dor e à falta de conhecimento sistêmico, ficam amarrados em um peso, que não permite que eles andem na vida leve.
Muitas pessoas têm dificuldades em se afastar de seus parceiros. Isso porque há um movimento de controle, onde um acha que pode e deve conduzir a vida do outro. Até mesmo este comportamento pode ter feito a desconexão amorosa.
Ambos devem entender que aquele ciclo termina – afinal, o amor acabou entre o casal – e deve ser feito de forma saudável. Portanto, ambos devem liberar o seu parceiro.
Se você não viveu uma separação, pode pensar que é fácil a liberação – mas eu digo que é a decisão mais difícil aceitar a vida como é, não como desejamos.
Escuto muitas pessoas relatando que vê e acompanha a vida do ex e sentem dor, inveja, ódio e muita raiva por ter perdido seu lugar ou por ter fracassado. Não aceitando a realidade, não querendo deixar o outro livre.
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O que NÃO fazer com os filhos durante um divórcio?
Caso tenham filhos, lembrem-se que a relação entre cônjuges termina com o divórcio, mas os deveres de pais não.
Mas imagine manter uma relação de pai e mãe, não liberando o outro como parceiro amoroso? Posso dizer que nunca dará certo o futuro, se estamos amarrados com situações do passado.
Alguns pontos importantes para não errar em uma separação funcional para os filhos:
- Não envolvam seus filhos e suas responsabilidades como genitores no processo de separação. No mais, trabalhem em conjunto para que a criança absorva a situação de modo saudável e compreensível.
- Não cobre das crianças a função de leva e trás.
- Não fale mal e diga que o pai abandonou os filhos, pois às vezes ele só deixou a relação amorosa, não os filhos.
- Não coloque a responsabilidade nos filhos de conseguirem fazer o parceiro voltar para casa.
- Não faça de seus filhos aliados na investigação da vida do seu ex parceiro.
Nunca se esqueça de que tudo pode nos fazer crescer. Basta termos uma consciência de crescimento. Até mesmo a dor de uma separação nos faz crescer. Por isso, para se separar, é preciso ter muita consciência de seus atos e consequências.
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O divórcio e a chance de reparação
Mesmo sendo um momento delicado, o divórcio pode ser uma chance de reparação:
- A quem causou a dor, de se retratar com o parceiro, pedindo perdão pela dor e deixando que o outro recomece.
- A quem foi ferido, dar uma chance ao parceiro, fazendo as pazes. O perdão serve para que você se desprenda daquele momento de dor, talvez até mais que o parceiro.
Nem sempre os recursos usados por alguns são eficientes para solucionar os problemas de todos. Há quem encontre uma dificuldade maior em superar a separação, vivendo um sofrimento que parece não ter fim. A situação tende a ser pior quando há filhos envolvidos, o que pode gerar danos ainda mais severos.
Por isso, além de contar com o apoio da família e de amigos, é importante também que a pessoa busque ajuda de um terapeuta familiar para ajudar na compreensão de como lidar com a situação naquele momento que, sozinhos, não achamos saída ou forças.
Precisamos ser maduros, tanto para seguirmos em frente quanto para liberarmos aquele que, no passado, escolhemos para caminhar junto neste projeto de amor e, em muitos casos, aquele que nos deu os maiores presentes da vida: os filhos.
Eis aqui uma das tarefas mais difíceis.
Quando um casamento chega ao fim, é porque muita mágoa aconteceu. E fazer o processo de divórcio com amor e respeito se torna um grande desafio.
Por isso, é necessário esforço e dedicação para cobrir o ex-cônjuge com amor, desejar que ele tenha um bom futuro, que não lhe falte nada de sua parte para ser um bom pai ou mãe, e, principalmente, que seus filhos vejam os pais se amando e respeitando.
Nada disso é fácil, mas apenas com esse cuidado e respeito o seu futuro e do seu ex-parceiro estarão garantidos, pois todos seguirão suas vidas em paz.
Que tal aprender um pouco mais sobre o Pensamento Sistêmico e como a Constelação pode mudar a sua vida relacional?
Bert Hellinger, criador da Constelação Familiar Sistêmica, nos ensinou em sua fala e ensinamentos que um divórcio, para acontecer consciente e com os menores traumas possíveis às partes, tem que valorizar o amor que existiu um dia e tudo que foi vivido e sentido por ambos.
Porém, o que vejo acontecer no dia a dia em meus atendimentos é totalmente o contrário desses ensinamentos, onde as pessoas só se agridem, se machucam e não reconhecem toda a história vivida e compartilhada.
Conforme sempre frisamos, os pais devem procurar manter um diálogo, principalmente quando ocorre o rompimento da vida conjugal, em nome da preocupação e do amor que dedicam aos filhos.
Ainda que tenham decidido pelo divórcio, devem deixar seus interesses próprios de lado, visando prioritariamente o desenvolvimento sadio dos filhos.
Então, durante esse processo de separação, é importante que ambos cuidem do emocional para não afetar o filho e suas relações futuras. Cuida-se fazendo terapia, constelando, buscando o autoconhecimento, uma prática espiritual (conforme suas necessidades e valores pessoais).
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O problema da Codependência no processo de divórcio
Você já observou pessoas que estão amarradas umas às outras, de forma quase patológica, onde a relação mais parece uma prisão e não se aceita a separação?
À este comportamento, a psicologia nomeou de Codependência, e as falas podem ser as seguintes:
- Vou morrer se você me deixar (ou) vou te matar se me deixar.
- Você acabou com minha vida.
- Eu não tenho mais sentido de vida sem você.
Para compreender, é necessário entende que a Codependência geralmente é exercida por um membro no sistêmico familiar, que traz experiências de formas de amar dependente, ou com quem exerce a função de pai e mãe – e, mais tarde, quando o indivíduo passa a se relacionar, os parceiros tornam-se objeto tanto do apego quanto do amor romântico sexual.
Sendo assim, “toda a simbologia das relações interpessoais está, até certo ponto, influenciada pelos padrões de apego desenvolvidos na infância” (MONTORO, 2006, p.122).
No entanto, “até o fim da vida, o ser humano é capaz de criar novos significados e novas narrativas para sua existência, e com isso se torna capaz de transformar emoções, sentimentos e ações” (MONTORO, 2006, p.135).
A escolha do parceiro também pode ser influenciada pela família de origem, e na separação a pessoa percebe que existe um padrão que segue, mas no momento da paixão não percebia.
Por diversos motivos, algumas pessoas procuram parceiros que tenham uma história, cultura, um núcleo familiar parecido com o seu, ao passo que outros escolhem pessoas de cultura, história de vida e familiar oposta a sua. Estas regras opostas que parecem reger a escolha do cônjuge são chamadas por Miermont (1994) de homogamia: “o semelhante atrai o semelhante”.
Ou seja, aquela pessoa que você casou, teve filhos tem algo semelhante com você ou o oposto disso?
Segundo Eiguer (apud MIERMONT, 1994), a escolha do parceiro é um organizador das relações familiares.
Neste sentido, Angelo (1995, p.49) acredita que “quanto menos elementos conflitantes não-resolvidos tiver a família de origem, tanto mais “livre” é a escolha do parceiro, no sentido de que as obrigações, as proibições, a necessidade de se ligar a um “determinado” tipo de parceiro são muito menos prementes”.
Na teoria sistêmica, a família, ou o casal, é vista como uma totalidade, na qual analisar os seus membros individualmente não é o suficiente para explicar o comportamento de todos os outros membros (MENEZES & RAUPP, 2007).
Desta forma, quando se estuda questões familiares, é de suma importância analisar a transgeracionalidade.
Wagner e Falcke (2005) referem-se à transgeracionalidade como o resgate dos conteúdos que acompanham a história familiar e se mantêm ao longo das gerações.
A pessoa que ama, solta, aceita e libera o outro para a vida. A pessoa codependente sente-se culpada e cobrada por fazer algo.
Desta forma, é comum, encontrarmos pessoas que,inconscientemente, buscam companheiros problemáticos para trazer para sua vida, ao invés de procurar viver feliz e fazer o melhor da vida por si. É um comportamento sutil e uma atitude inconsciente.
A mente consciente até dá diversas desculpas para manter este tipo de relação, mas na verdade, existe uma força oculta que impulsiona um codependente contra o outro, e esta força está baseada na dor, sofrimento e culpa. Na Codependência há um desejo contínuo de controle.
Bert Hellinger, criador da Terapia de Constelação Sistêmica, estabelece que uma das ordens para que o amor flua numa relação é a igualdade do dar e receber. “(…) em primeiro lugar, faz parte das ordens do amor entre pessoas iguais que reconheçam o outro como alguém de mesmo valor”.
Na terapia de família e de casal, busca-se, por meio de uma comunicação aberta, revisar e atualizar os modelos mentais de padrão amoroso. Casais com um padrão de relacionamento seguro tendem a permitir uma comunicação aberta, mesmo sobre assuntos desagradáveis visando, sempre, uma melhor regulação da intimidade.
O terapeuta que adota o pensamento sistêmico não age como um expert, que define as verdades e o caminho que o casal deverá seguir. Age como participante ativo em uma conversa que, mediante seus conhecimentos e habilidades, construirá melhores caminhos para o crescimento, juntamente com o cliente.
Acredito que a Terapia Sistêmica é uma experiência por meio da qual o indivíduo se abre para possibilidades que não se tinha acesso. E o terapeuta irá abrir este caminho por meio dos recursos terapêuticos oferecidos pelo próprio casal.
E então, se você está passando por um processo de separação, divórcio ou, até mesmo, brigas e desentendimentos ainda vivendo como um casal, entre em contato comigo para conversarmos.
Referências teóricas para a produção deste conteúdo:
- ELKAÏM, M. Como Sobreviver à Própria Família. São Paulo: Integrare, 2008.
- MENEZES, C.C.; RAUPP, C.S. Transgeracionalidade: Quando crescer não é permitido. Revista Pensando Famílias, v.11 (2), 2007. P. 57-70.
- MONTORO, G.C.F. A regulação da intimidade conjugal. In: COLOMBO, S.F. Gritos e Sussurros: Interseções e ressonâncias, trabalhando com casais. Volume II. São Paulo: Vetor, 2006. P. 107-142.