Fiz este conteúdo pensando em um tema muito importante para conversarmos: relacionamentos ruins que estão ligados a repetição de padrões familiares.
Muitas mulheres me procuram nas sessões de terapia com o seguinte questionamento:
“Eu nunca quis viver o que minha mãe viveu com o meu pai e os outros homens que ela se relacionou depois da separação (ou viuvez). Agora eu estou vivendo vários relacionamentos ruins e vivo os mesmos dramas que ela. Não sei onde estou errando”.
Para responder a esta pergunta devemos entender primeiramente o que é família e como este sistema nos afeta para a vida adulta.
Portanto, pegue um chazinho ou um café e vamos conversar?
Como a família afeta o nosso comportamento de adultos?
Antes de falarmos sobre relacionamentos ruins – e aqui podemos focar nos relacionamentos amorosos – precisamos entender o padrão de comportamento que as pessoas podem desenvolver em seus sistemas familiares.
Bom, cada família pode ser vista pela ótica de um sistema único e cada uma delas têm um conjunto de crenças de comportamento que direcionam maneiras de se relacionar e enfrentar os desafios da vida.
Portanto, para cada desafio, cada família pode atribuir um valor diferente e um sentido único de se relacionar com aquilo.
Essa dinâmica e conjunto de comportamentos podem ser passados de forma transgeracional, tendo a origem em nossos antepassados e também por histórias contadas inúmeras vezes.
Por isso, muitas vezes é difícil detectar o por quê e como você iniciou tal padrão. De maneira direta ou indireta, para auxiliar no processo de desenvolvimento e aprendizado de como nos relacionar, os pais acabam transmitindo os valores desse sistema familiar para os filhos.
Isso nos leva a entender que se os valores estão distorcidos e, mesmo assim, foram praticados pelos nossos familiares, a chance de também repetirmos os mesmos padrões de relacionamentos ruins é alta.
Ok. Daí você pode se perguntar: “já que sabemos disso e até convivemos com esses dramas nos relacionamentos dos nossos pais e avós, por que repetimos esses padrões?”
Vamos lá.
A repetição de padrões familiares é feita de forma inconsciente
A repetição de padrão geralmente significa uma lealdade inconsciente a algo ou alguém do sistema familiar.
Isso mesmo: uma lealdade. Somos leais, mesmo que inconscientes, aos nossos antepassados.
O mais difícil de aceitar é que são justamente essas lealdades cegas que nos traumatizam e nos limitam para vivermos relacionamentos saudáveis, com trocas frutíferas e evoluindo culturalmente.
Trauma significa ferida – ou melhor, uma ferida na alma. Muitas vezes o trauma diz respeito a algo vivenciado, sem que a pessoa consiga processar ou enfrentar racionalmente, já que parte da mente fica bloqueada.
Ou seja, essa lealdade inconsciente aos nossos familiares também faz com que a gente carregue traumas e feridas na alma – mesmo que não saibamos exatamente quais são elas.
Nas terapias sistêmicas, falamos que esses traumas são emaranhamentos sistêmicos, algo que nos faz ficar amarrados e não sabemos o que é.
Vou dar um exemplo bem prático desse tema e que está ligado ao desenvolvimento de relacionamentos ruins.
Leia também: Por que é tão difícil viver o momento presente?
A repetição de padrões familiares que gera relacionamentos ruins
Facilmente percebemos traumas passados de geração para geração nos relacionamentos ruins.
As pessoas vão contando e reproduzindo as histórias vividas pelos antepassados e também transmitindo os temores para as próximas gerações.
Isso vai criando uma força que as famílias não percebem. Elas vão criando padrões mentais e emocionais em seus descendentes, pois eles não se curaram – só reclamavam ou lamentavam.
Quando só nos queixamos, somos incapazes de agir.
Sabe aquela pessoa que está sempre com o mesmo tipo de namorado, desenvolve uma codependência emocional e não consegue ser livre e feliz?
Você provavelmente deve conhecer alguém que termina um relacionamento horrível e, pouco tempo depois, se envolve em um outro relacionamento que, no início, pode até parecer diferente, mas acaba muito parecido ou totalmente igual ao relacionamento anterior, – os mesmos problemas, discussões, brigas e sofrimento.
Para a terapia sistêmica, relacionamentos amorosos são vistos como um sistema, quase como um organismo, que precisa se alimentar para continuar existindo.
Porém, nem sempre as relações e comportamentos que alimentam esse organismo são funcionais e saudáveis. Temos por disfuncionais todos estes padrões que trazem sofrimento e doença para os laços amorosos.
Cabe ao cliente e ao terapeuta descobrirem juntos quais são os motivos, os rituais familiares de origem, os mitos e os papéis que cada um desempenha no relacionamento. O objetivo dessa descoberta é tornar-se consciente das crenças que sustentam as disfunções e, a partir daí, criar novas formas de se relacionar, recriando um sistema saudável e relações mais funcionais.
Guarde isto: podemos nos permitir, sem criticar a nossa família e o nosso passado, podendo aprender algo diferente.
Caso não busque superar o trauma, além da herança genética, a pessoa traumatizada poderá causar consequências negativas no namoro ou casamento, com os filhos, no trabalho ou consigo mesmo, na própria autoestima. Quando perdemos a esperança, a fé e os sonhos, não temos força para agir.
Como quebrar o ciclo de relacionamentos ruins?
Se você vive esse ciclo de problemas que parecem não ter fim, se a sua história está repetindo o modelo negativo da história de seus pais, é preciso fazer algo. É preciso quebrar esse ciclo.
Mas como?
O primeiro passo para quebrar esse ciclo de relacionamentos ruins é questionar as “velhas tradições engessadas” que trouxemos de nossos familiares e padrões aprendidos de relacionamentos (de tempos até mesmo inimagináveis), que repetimos sem perceber e que já não servem mais aos propósitos da vida moderna.
Pensemos juntos:
Nós não nascemos de pais perfeitos. Eles também têm suas histórias, seus pontos vulneráveis e, consequentemente, seus erros.
Para consertar o presente, precisamos, muitas vezes, voltar ao passado. Do contrário, andaremos para o futuro de costas e os tropeços e quedas serão inevitáveis.
Amar quem não o amou pode abrir no cérebro muitas “gavetas” que estavam trancadas há anos – e isso fará toda a diferença. Quando temos problemas nos relacionamentos, quando vivemos relacionamentos ruins, acredito que só o amor para curar as feridas.
Se o processo for doloroso demais ou a repetição tiver consequências sérias para os relacionamentos interpessoais, a terapia sistêmica é uma boa ideia.
A terapia sistêmica promove um ambiente seguro para refletir a origem desses comportamentos, sem julgamento. Desse modo, é possível descobrir a origem dentro daquela cultura familiar, do contexto em que surgiu e como a sociedade pode ter favorecido a continuidade daquele padrão.
Acredito que nossos antepassados e pais são também frutos de um meio social que moldou suas escolhas.
Vou contar a minha experiência pessoal.
Certa vez ouvi uma frase que transformou algo dentro de mim em relação ao perdão do meu pai:
São vítimas de outras vítimas.
Mesmo o meu pai sendo um homem que me fez acreditar que casamento era o pior que poderia acontecer para uma mulher, com a cura emocional eu pude ver que poderia ter chance de viver em um casamento harmônico.
Eu também consegui não apenas vê-lo como o culpado por destruir a autoestima da minha mãe – mas como ela, devido a história que ela mesmo viveu, ficou vulnerável para aceitar e viver um relacionamento não saudável.
Podemos ver o contexto cultural de suas famílias e da sociedade daquele tempo.
Foi uma longa jornada de cura para mim. Por isso, me sinto otimista na possibilidade de vivermos relacionamentos saudáveis.
Mas como expliquei anteriormente, os traumas às vezes nos visitam, com algumas memórias e feridas do passado.
Tem uma história de gafe pública, que não gosto de lembrar, mas vou contar para você.
Estava fazendo um curso com um americano falando inglês e um tradutor auxiliar. Eu estava no palco e precisava fazer uma técnica de sentir que eu era uma criança e depois ia para a fase adulta em um passo.
Quando voltei ao estado de ser criança eu fiquei triste, me deu vontade de chorar e não conseguia ir para a fase adulta. Me veio muita dor do passado.
Muitos colegas me criticaram. Como ela, uma terapeuta bem resolvida, estudada e com mil cursos ainda tem traumas?
Daí o grande doutor levantou-se e disse: “Todos os dias meu pai bebia e batia na minha mãe. Todos os dias eu faço meditação para não beber e enlouquecer como eles fizeram”.
Todos ficaram tocados. Afinal, o nosso grande mestre ainda lutava contra seus demônios do passado.
O que ele falou fez todo o sentido. Mesmo sabendo que a bebida destruiu sua família, foi na bebida que ele escolheu para ter solução. Às vezes, cegamente, escolhemos a mesma dor.
Mas não precisa ser assim para sempre. Existe saída para relacionamentos ruins, tanto os amorosos quanto os familiares e nos demais contextos da nossa vida.
Portanto, se você precisa de ajuda para quebrar esse ciclo, conte comigo. Acesse este link para agendar uma consulta ou tirar as suas dúvidas sobre o que a terapia sistêmica por fazer por você. Te espero!